Mania de lembrar.

Sou viciada em criar memórias, em sempre lembrar das coisas. Parece que eu estou sempre fazendo um esforço descomunal para lembrar de absolutamente tudo. Datas, músicas, textos, livros, aniversários, comemorações.

Me lembro de prestar atenção nos detalhes e ler nas entrelinhas, de ser o suporte necessário em tempos turbulentos e o acalento para aqueles que necessitam de mim. Lembro de estar presente e prestar apoio. Lembro de sorrir quando estão me olhando. Lembro de sempre fazer as coisas certas. De tomar as atitudes corretas.

Lembro de organizar a bagunça, mesmo quando ela não é minha. Lembro de escrever e-mails gigantes apenas para não deixar a caixa de entrada acumular. Lembro de parabenizar amigos em datas comemorativas. Lembro de telefonar para a família pelo menos uma vez na semana pra dizer que tô viva.

Lembro de fotografar os passeios e filmar momentos. Lembro de ter sempre por perto meu HD externo para garantir que essas memórias estejam seguras. Lembro de revelar as imagens simplesmente porque gosto da sensação de segura-las.

Lembro de músicas que me lembram de pessoas e momentos e falas e risadas e algumas vezes, lágrimas. Lembro de todos os CD’s que eu colecionava. Lembro das fitas VHS e do lançamento do DVD e posteriormente da coleção de filmes que eu tentei fazer na adolescência.

Lembro de olhares e de semblantes como se estivesse parada no tempo. Lembro de frases que me foram ditas como se as palavras não fossem nada mais do que vento.

Lembro de livros que li quando ainda era menina e às vezes lembro de reler os mesmos. Lembro de conferir a caixa de correio ainda que eu não esteja esperando nenhuma correspondência. Lembro de escrever cartas, ainda que às vezes eu me esqueça de enviá-las.

Me lembro de tudo. Me forço a lembrar. A única memória que me falta é aquela que nem mesmo meu subconsciente pode alcançar. As lacunas que nunca foram preenchidas, as incógnitas que insistem em me assombrar. Os anos perdidos, as respostas que nunca chegaram. A infância roubada, os medos e traumas com os quais eu ainda não sei lidar. Então, a verdade é que sim, eu me lembro de tudo, exceto do que a minha mente resolveu apagar.

Faço tanta questão das lembranças porque elas me foram negadas, então agora me agarro a tudo que é tangível – dessa forma elas não poderão escapar. Porque não poderão me arrancar tudo aquilo que eu registro.

Talvez eu esteja exagerando. Talvez essa necessidade de memorizar faça parte do ofício. Talvez minha memória seja seletiva. Talvez eu tenha desistido de entender e desvendar meus próprios mistérios. Talvez seja tudo isso ao mesmo tempo. Ou talvez essa minha mania de lembrar seja simplesmente o medo de voltar a esquecer.

1 Comentário

  1. Eu sei como é se sentir assim.

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