Moro num país em que a cada dois minutos, uma mulher é agredida, a cada onze estuprada, e a cada 7 horas, morta, na maioria das vezes pelos próprios companheiros. As mesmas mãos que nos envolvem, são as que nos sufocam. Enquanto escrevo essas linhas, as histórias vão se repetindo, e se repetindo, e seContinuar lendo “Mulher”
Memórias de um romance que não aconteceu
Nós poderíamos ter ido ao cinema, dividindo a pipoca salgada, tanto no preço quanto no sabor. Depois do filme, poderíamos lanchar na praça de alimentação lotada de um shopping qualquer, discutindo sobre as diversas interpretações de um livro ou sobre alguma teoria da conspiração recém descoberta. Poderíamos ter dançado bêbados na varanda sob a luzContinuar lendo “Memórias de um romance que não aconteceu”
Sobre suposições
Do que tenho tanto medo? De me expressar? De me senti vulnerável, de deixar que me leiam como um livro aberto? De dizer as palavras inomináveis que permanecem entaladas na garganta? Ou descobrir quem eu sou e do que sou capaz? De me surpreender, de surpreender a todos? São tantas suposições que até me perco.Continuar lendo “Sobre suposições”
Vou ensinar às minhas filhas que o amor não machuca
Se eu tiver filhas, me regozijarei e me amaldiçoarei na mesma intensidade. Essa dualidade de sentimentos é causada pelas minhas próprias experiências: pelo que vi, ouvi, senti e vivi. O meu maior medo é que elas se tornem mais uma geração de mulheres feridas por aqueles que deveriam nos acolher. Fui ensinada desde criança queContinuar lendo “Vou ensinar às minhas filhas que o amor não machuca”
Despedidas
Eu odeio despedidas. Odeio a sensação de nó na garganta e o aperto no peito e a respiração pesada que elas me causam. Odeio dizer as palavras infernais: tchau, te vejo em breve, é hora de partir. Sempre odiei. Por mais estranho que pareça, eu me lembro da minha primeira despedida. Eu tinha 3 anosContinuar lendo “Despedidas”
Esperança
Minha avó foi vacinada. E na última noite, eu não dormi. Virava de um lado para o outro, sem conseguir fechar os olhos. Olhava para o teto, sentia meu coração acelerar por causa da ansiedade que me consumia e tentava adivinhar qual seria a minha sensação quando a tão esperada vacina finalmente estivesse no corpoContinuar lendo “Esperança”
Preciso me lembrar que tenho asas
Ainda sei voar? Ainda me lembro da sensação de abrir as asas e deixar o vento me guiar? Ainda vale a pena esperar que as águas passem debaixo da ponte e mudem o curso de toda uma vida? Nesses últimos tempos, quase me esqueci de quem eu sou. Quase me esqueci da consistência do meuContinuar lendo “Preciso me lembrar que tenho asas”
Neste fevereiro não tem carnaval
Já não é mais como na música de Jorge Ben. Não tem nem fusca, nem violão. Nem flamenguistas em coro no maraca fazendo a torcida do time de coração. O país continua sendo tropical, é claro. Rio de Janeiro já passou dos quarenta graus e agora está no ponto de ebulição. As praias estão superlotadas,Continuar lendo “Neste fevereiro não tem carnaval”
Janeiro
As noites abafadas de um verão que insiste em não acontecer parecem se repetir. Os dias são os mesmos, me perco num cronômetro que não dá conta de acompanhar o movimento frenético dos ponteiros, me soterrando nas areias da ampulheta e num piscar de olhos, sou engolida pelo tempo e sua força incalculável deixa suasContinuar lendo “Janeiro”
Reflexões de uma noite mal dormida
Ultimamente, me pego pensando com determinada frequência sobre a efemeridade do tempo e suas esperas inevitáveis e cansativas. Me questiono sobre esse excesso de perguntas e escassez de respostas que insistem em me acompanhar, entranhados no âmago do meu ser, qualificando minha essência inquieta e perpetuando padrões de pensamentos inconstantes que herdei de meus antepassadosContinuar lendo “Reflexões de uma noite mal dormida”